CF 2015: Tema –
FRATERNIDADE, IGREJA E SOCIEDADE
Lema – “Eu vim para
servir” (Marcos 10,45)
INTRODUÇÃO
A CF 2015 “Fraternidade, Igreja e
Sociedade”, quer, no tempo da quaresma recordar o mandato missionário de Jesus
(Ide… Mateus 28,19-20). Em sua essência, a Igreja é, antes de tudo, uma
comunidade em saída (missão). A Missão é ir, sem medo, ao encontro dos
excluídos e convidá-los para seguir o Jesus. O missionário encurta distâncias,
abaixa-se e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo.
Os setores missionários são o
ambiente aonde a caridade se torna anúncio vivo. É nos setores que podemos
dizer que os cristãos são presença do Evangelho na sociedade e podem colaborar
na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária, preservando-a
de ser excludente.
A Campanha da Fraternidade deste ano
– Fraternidade, Igreja e Sociedade -, assume como objetivo geral: “Aprofundar,
à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a Sociedade,
propostos pelo Concílio Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a
edificação do Reino de Deus”. O Lema da Campanha da Fraternidade 2015 é “Eu vim
para servir” (Marcos 10,45).
Assume também os seguintes objetivos
específicos:
– Fazer memória do caminho percorrido
pela Igreja com a sociedade, identificar e compreender os principais desafios
da situação atual.
– Apresentar os valores do Reino de
Deus e da doutrina Social da Igreja como elementos autenticamente humanizantes.
– Identificar as questões
desafiadoras na evangelização da sociedade e estabelecer parâmetros e
indicadores para a ação pastoral.
– Aprofundar a compreensão da
dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito
e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações
desumanas e violentas.
– Buscar novos métodos, atitudes e
linguagens na missão da Igreja de Cristo de levar a Boa Nova a cada pessoa,
família e sociedade.
– Atuar profeticamente à luz da
evangélica opção preferencial pelos pobres, para o desenvolvimento integral da
pessoa e na construção de uma sociedade justa e solidária.
PRIMEIRA PARTE
CONHECENDO MELHOR A
REALIDADE
As origens do Cristianismo estão na
vida, pregação, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele assumiu e viveu a
cultura do seu povo, participando ativamente dos problemas daquela sociedade.
As primeiras comunidades cristãs foram perseguidas. O exemplo dos mártires
tornava-as mais unidas. O Cristianismo fortalecido por este testemunho se
espalhou pelo mundo daquela época.
Hoje, nós, cristãos, temos o desafio de estabelecer
uma relação com a sociedade que provoque respostas positivas aos inúmeros
desafios que as pessoas mais simples enfrentam.
A ATUAL REALIDADE
Hoje, a população brasileira passa
dos 200 milhões de habitantes. A expectativa de vida do brasileiro, em 2012,
chegou a 74 anos. Com o aumento da expectativa de vida e a diminuição dos
nascimentos (em 1960 cada mulher tinha média de seis filhos e. em 2010 caiu
para 1,8), logo o Brasil terá mais anciãos que jovens. Isto acarretará para as
famílias um custo adicional para o cuidado com os idosos.
Outro dado preocupante dos dias
atuais é o aumento da população urbana: 85% dos brasileiros vivem nas cidades.
Isso gerou o surgimento de favelas, faltam de transporte púbico, vagas em creches,
etc. Mais de 50% dos domicílios no Brasil não tem coleta de esgoto. Um grave
problema é o aumento do lixo. Hoje são 273 mil toneladas por dia de resíduos, a
grande maioria sem um destino adequado. Somente para sanar o déficit do
saneamento básico seriam necessários investimentos da ordem de 12 bilhões por
ano, durante 20 anos consecutivos.
É certo que algumas políticas
econômicas de inclusão geraram avanços sociais, tais como “bolsa família”, que
atende 14 milhões de famílias. Após 10 anos este programa contribuiu para a
diminuição da pobreza extrema da população de 9,7% pra 4,3%. Diminuiu também a
mortalidade de crianças de até 05 anos, que passou de 53,7, em 1990, para 17,7,
em 2011 de mortes por mil nascidos. Houve também, nos últimos 20 anos estabilidade
econômica, que gerou empregos, aumento de renda, inflando a classe média, hoje
estimada em mais de 100 milhões de pessoas. Esta classe média passou a consumir
produtos antes restritos à classe alta: planos de saúde, escolas particulares,
viagens aéreas etc.
Apesar deste grande desenvolvimento,
há ainda situações de extrema pobreza preocupantes como os grupos indígenas,
quilombolas, pescadores e pessoas invisíveis nas cidades, moradoras de cortiços
ou pequenos cômodos isolados nos fundos de residências. São pessoas com
rosto sofrido, que precisam ser retiradas do silêncio imposto pela vergonha do
não ter.
A VIOLÊNCIA
A violência é um fenômeno que não
para de crescer. São 50 mil mortes violentas por ano. Isso representa a oitava
pior marca entre 100 nações com estatísticas confiáveis sobre o tema. O índice
de assassinatos esclarecidos é baixo, o que contribui para a sensação de
impunidade. Mesmo assim, mais de 500 mil brasileiros estão detidos, grande
parte por tráfico de drogas, a maioria composta por jovens, negros e pobres,
com poucas oportunidades de reintegração social. O aumento da violência
provocam debates como a diminuição da menoridade penal e até a aplicação da
pena de morte. O comércio das drogas aumente vertiginosamente, chegando mesmo
às cidades mais afastadas dos grandes centros.
A CULTURA DO
DESCARTÁVEL
A Igreja no Brasil denuncia o
processo social em que as pessoas são vistas apenas sob o prisma da produção e
do consumo. Quando não se prestam a estas funções, são descartadas e passam a
compor a massa sobrante da sociedade.
SINAIS DOS NOVOS
TEMPOS
Em contraposição à cultura do descartável, do
relativismo, preconceito religioso e materialismo, encontram-se também os
sinais da formação de uma nova cultura em muitos homens e mulheres, crentes ou
não, que se empenham em construir uma cultura que permita uma maior realização
humana, que respeite e ajude a desenvolver a plural dimensionalidade da pessoa
humana, sua autonomia e abertura ao outro e a Deus. Características desta nova
cultura são:
1.
Respeito à consciência de cada um; 2-
abertura à diferença e multiculturalidade. 3- solidariedade como todo criado;
4- rejeição às injustiças; 4- sensibilidade para com os pobres.
ESPERANÇA
DIANTE DOS DESAFIOS
2.
O Papa Francisco exortou todos os cristãos a não assumirem uma posição
pessimista diante das dificuldades presentes, nem uma posição meramente reativa
ou pior, de resistência e isolamento. Ele os chamou a unir forças com os homens
e mulheres de boa vontade, crentes ou não, mas que desejam agir na construção
do desenvolvimento humano integral. A Igreja, partindo de Jesus Cristo,
propõe-se a servir, neste contexto desafiador, com uma mensagem salvadora que
cura as feridas, ilumina e descortina um horizonte para além dessas realidades.
Ao chegar ao coração de cada homem e de cada mulher, a Boa Nova e a esperança
da Ressurreição podem mostrar-lhes quanto são animados por Deus e capazes de
contribuir para uma nova e renovada humanidade.
3.
Uma parte das novas gerações, movida
pela esperança e pelo desejo de construir um mundo melhor, não aceita a
indiferença, a violência e a exclusão. Esse movimento busca construir sínteses
novas e criativas entre razão e sensibilidade, indivíduo e comunidade, global e
local.
SEGUNDA PARTE
O que os Bispos
esperam de nós
A Missão da Igreja é colocar à
disposição do gênero humano as forças salvadoras que ela recebe de Cristo.
Propõe salvar a pessoa humana integralmente e restaurar a sociedade humana no
que se refere à sua finalidade mais autêntica: o desenvolvimento integral a
partir do bem comum. Para a Igreja, a sociedade humana foi criada por um
desígnio amoroso de Deus Criador e está por Ele designada a alcançar sua
própria realização: a vida plena no amor por meio da participação na vida
divina. A Igreja, perita em humanidades, iluminada pela Palavra de Deus,
reconhece a família e a sociedade política como indispensáveis ao progresso da
humanidade.
A missão específica da Igreja é de
cunho religioso, e não propriamente político, econômico ou social. Ela, a
Igreja, contudo não apenas colabora com a sociedade, mas também é ajudada pela
sociedade. Esses dois aspectos se tornam referência tanto para a valorização
das realidades terrestres – o trabalho, a ciência, a política, a economia, etc.
– quanto para incentivar a inserção dos cristãos na realidade social, sendo
eles próprios semeadores da Boa Nova na sociedade.
Em sua missão de anunciar o Cristo, a
Igreja necessita conhecer e preparar o terreno onde lançar a semente do
Evangelho. Ou seja, deve estar atenta à realidade e suas mudanças, suas
inquietações e seus clamores. Para que exista a inculturação (inserção dialogal
da Boa Nova na sociedade), é necessário que a Igreja leve em conta os desafios
ou apelos de cada tempo e espaço.
Os novos areópagos (espaços de
convivência humana) que a Igreja deve estar presente são: mundo das comunicações
sociais, relações internacionais, desenvolvimento e libertação dos povos,
principalmente das minorias, a promoção da mulher, do jovem, da criança, a
proteção da natureza e outros.
OPÇÃO PELO SER
HUMANO
E PREFERENCIALMENTE
PELOS POBRES
São João XXIII, ao convocar o
Concílio Vaticano II para que a Igreja pudesse compreender o mundo que a
cercava naquela época, usou a expressão sinais dos tempos para mostrar a
relevância dos pobres, das mulheres e dos operários na sociedade do seu tempo.
Desde o Concílio Vaticano II houve transição da Igreja comprometida com o poder
para uma Igreja solidária com os pobres. O Concílio indicou a necessidade de
aproximar a Igreja dos pobres, não apenas no sentido da compaixão, como fizera
nos séculos passados, mas também no sentido de real identificação entre Igreja
e pobres. Os fiéis seguem seu Senhor que se fez pobre, não buscam glórias
terrenas, mas a humildade e a abnegação.
São João Paulo II colocou a opção
pelos pobres como critério do seguimento de Jesus Cristo para a Igreja (Carta
Apostólica Novo Millenio Ineunte n.49). O papa Bento XVI elevou a opção pelos
pobres à categoria teológica ao dizer que: “Nossa fé proclama que “Jesus Cristo
é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem” (Documento de Aparecida
(DA) n.218). Por isso, “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé
cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua
pobreza” (DA 219). Esta opção nasce de nossa fé em Jesus Cristo, o Deus feito
homem, que se fez nosso irmão (cf. Hb 2,11-12) (DA 392). O Papa Francisco
propôs no início do seu pontificado o empenho por uma Igreja pobre para os
pobres. E pediu, no lançamento da Campanha Mundial contra a Fome e a Pobreza,
que todos os cristãos ajudem nesta Campanha liderada pela Caritas em garantir
alimento para todos.
TERCEIRA PARTE
SERVIÇO, DIÁLOGO E
COOPERAÇÃO
Para a Igreja, os
cristãos devem ir às raízes da pobreza social, estimulando os pobres a se
conscientizarem de sua situação e a assumirem a iniciativa de sua
libertação.
A dignidade da pessoa humana, o bem comum e a justiça social são os critérios
que a Igreja discerne a oportunidade e o estilo de seu diálogo e de sua
colaboração com a sociedade. No Brasil alguns direitos básicos ainda carecem de
avanços para serem disponibilizados para toda a população: 1- direito à
água limpa e potável; 2- direito à alimentação; 3- direito à moradia; 4-
direito à liberdade e manifestação política; 5- direito à educação; 6- direito
à manifestação religiosa publicamente.
O fundamento de todos estes direitos
é o direito à vida, desde a sua concepção até o fim natural. A luta pelos
direitos básicos da pessoa humana ainda não se traduziu, no Brasil, em
melhorias nas condições básicas da população, sobretudo dos necessitados.
O SERVIÇO DAS
DIMENSÕES CATEQUÉTICO /MISSIONÁRIO DA PARÓQUIA À SOCIEDADE
O Papa Francisco chama todos os
batizados a uma conversão missionária. Em Mateus 28,19-20 Jesus Cristo pede uma
Igreja em saída para testemunhar a alegria do Evangelho. Fazendo referência às
pessoas que experimentam desorientação e vazio interior na sociedade que
primazia o descartável, o consumismo, individualismo, o Papa Francisco pede:
1- Igreja que não tenha medo de
entrar na noite destas pessoas; 2- Igreja capaz de encontrá-las em seu caminho;
3- Igreja capaz de inserir em suas conversas; 4- Igreja que saiba dialogar com
aqueles que vagam sem meta, com desencanto, desilusão, até mesmo do
cristianismo; 5- Igreja capaz de acompanhar o regresso a Jerusalém
(felicidade).
Para o Papa Francisco trata-se de
estudar os sinais dos tempos ou de ver o que Deus pede de nós.
SUGESTÕES CONCRETAS
PARA AS DIMENSÕES MISSIONÁRIA E CATEQUÉTICA:
– Refletir nas famílias sobre o que
edifica a vida e o que não é gerador de vida e estratégias para soluções.
– Promover momentos para exercer o
discernimento a partir da Palavra de Deus acerca do que ocorre na comunidade,
bairro, cidade e identificar as ameaças à vida.
– Pensar formas de contribuir para a
resolução de tais situações, considerando as capacitações requeridas para as
ações de enfrentamento da realidade identificada.
O SERVIÇO DA
DIMENSÃO SOCIAL DA PARÓQUIA À SOCIEDADE
A Igreja Católica participa
efetivamente da sociedade através das pastorais sociais que atuam junto às
pessoas em situação de marginalização. Estas pastorais agem em defesa da vida e
dos direitos dos necessitados.
O Papa Francisco tem feito apelo em
prol daqueles que são descartados na sociedade. Ele pede que as comunidades
católicas se abram a este chamado, identifiquem estes grupos no ambiente
paroquial e ajam através das pastorais sociais.
Na sociedade civil encontramos muitas
entidades e instituições que propõem boas iniciativas, visando atender as
necessidades da população carente. A Igreja declara querer ajudar e promover
todas estas instituições, na medida em que isso dependa dela e seja compatível
com a sua própria missão. Este diálogo também abrange o diálogo ecumênico e
inter-religioso.
SUGESTÕES CONCRETAS
PARA A DIMENSÃO SOCIAL
-Repensar a própria responsabilidade
em relação à sociedade em temas catequéticos como: sustentabilidade, respeito
aos direitos dos outros, liberdade religiosa, educação para a solidariedade,
cuidado com os bens públicos.
– Criar serviços a partir das
características da paróquia e capacitação dos paroquianos (reforço escolar,
biblioteca comunitária, capacitação informática, mutirões de ajuda, etc.).
– Esclarecer a comunidade sobre a
importância da participação nos conselhos Paritários
– Obter informações sobre os
Conselhos Paritários constituídos no Município
– Escolher e preparar pessoas na
comunidade para participarem em nome da Igreja nos Conselhos Paritário
(Conselhos Municipais).
O SERVIÇO DA
DIMENSÃO LITÚRGICA DA PARÓQUIA
À SOCIEDADE
SUGESTÕES CONCRETAS
– A comunidade insira o tema da paz
em sua liturgia e orações
– Articular com outros grupos
religiosos momentos de oração pela paz em lugares simbólicos
– Conhecer realidades próximas da
Comunidade que apresentem conflitos e refletir sobre soluções possíveis
– Acompanhar famílias, jovens,
gangues, escolas com incidência de conflitos em vista de superá-los. Apoiar as
iniciativas da sociedade organizada e de organizações não governamentais que
visem a cultura da paz.
O SERVIÇO DA
DIMENSÃO PARTICIPATIVA DA PARÓQUIA À SOCIEDADE PARTICIPAÇÃO NA REFORMA POLÍTICA
A reforma política proposta pela
Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, da qual a Igreja
também faz parte, propõe:
Proibição de
financiamento de candidatos por empresas
Adoção do sistema
eleitoral chamado voto transparente, proporcional em dois turnos pelo qual o
eleitor inicialmente vota num programa partidário e posteriormente escolhe um
dos nomes da lista ordenada no partido, com participação de seus filiados e
acompanhamento da Justiça Eleitoral e do Ministério Público. A promoção da
alternância de homens e mulheres nas listas de candidatos dos partidos, porque
o Brasil, onde as mulheres representam 51% dos eleitores, é um país onde a
representação feminina conta com apenas 9% de mulheres na política.
SUGESTÕES PRÁTICAS
PARA A DIMENSÃO PARTICIPATIVA
– Que a comunidade cristã não fique
alheia aos processos políticos na sociedade
– Convidar pessoas para debater,
traçar metas e estratégias de mobilização em vista da contribuição à necessária
reforma política.
CONCLUSÃO
CAMPANHA DA
FRATERNIDADE 2015 Solidária à Campanha Mundial Contra a Fome
Diante dos desafios da modernidade, que fragiliza as relações sociais e
desvaloriza o caráter transcendental do ser humano através da cultura do
descartável, a Igreja tem uma palavra a dizer sobre isto. A vocação
missionária, pautada na opção preferencial pelos pobres, leva a Igreja a ir ao
encontro daqueles que ninguém precisa, que ninguém emprega, que ninguém cuida,
que tem fome de comida, de justiça, de educação, de lazer, etc.
O Papa Francisco diz: “Vocês, queridos irmãos, não tenham medo de oferecer esta
contribuição da Igreja que é para o bem da sociedade inteira, de oferecer esta
palavra encarnada também com o testemunho” (Encontro do Papa com o Episcopado
Brasileiro durante a JMJ 2013).
Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, nos ensine a caminhar pelas estradas da
vida como testemunhas do amor revelado em Jesus Cristo. Nele, como discípulos
missionários, testemunhemos a beleza do Reino de Deus.
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